segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Essência

Ainda me assusto com as mudanças bruscas do meu comportamento. Daquelas que mudam numa rapidez por dentro, enquanto entorpece a carne e deixa dormente a visão. Assim você só percebe com o tempo... Numa fração de segundos, um ônibus passando, uma criança que tropeça ou mesmo reparando o movimento dos pés fingindo assistir aula, dá aquela estalada no subconsciente, e olha só, lá estou eu mudada de novo. 

Nada com cabelo, cor de esmalte ou perfume, isso só vem depois. É como a sensação de entrar em uma casa nova, sabe? 

O velhinho da esquina que passa fome agora importa pra mim, assim como o que eu quero cursar. Passar a tarde de cara pra TV parece estranho, tanto quanto inútil. E quem aparecia nesse espelho enquanto eu me olhava semana passada? Pareço tão outra, mas ao mesmo tempo tão eu. Adaptável: achei a palavra certa! Isso talvez me defina da melhor forma possível (mesmo nunca havendo uma, pra Seu Ninguém).

E de novo um entorpecer na carne e uma nuvem nos olhos: aqui estou eu, mais uma vez mudada. 
O velhinho que passa fome na esquina bebe. - "Por isso não come, puro vício." -  O meu curso não me aflige mais tanto - "Cara, amanhã eu posso nem acordar, carpe diem!" 
“Gosto do barulho da TV ligada” - então lá vai um dia inteiro na frente dela...  
Pela segunda, ou centésima vez, quem diabos aparecia nesse espelho enquanto eu me olhava? 

Mudança vai, mudança vem, certas coisas permanecem e fazem disso uma atividade previsível, e às vezes até indispensável. Os efeitos colaterais te obrigam a parar quieta num lugar, e você descobre quem é, ou pelo menos por mais tempo. Torna-se uma cidadã pacata, tranquila, aceitável... Até tirarem você do sério, até tudo virar de ponta à cabeça. Então, lá estará você mais uma vez na frente do espelho com a mesmo pergunta latejando na garganta. 

Agora dei pra observar isso com ar de admiração... Não sei, me parece como uma forma de se recriar sempre durante cada situação vivida, e no entanto, continuar "a mesma". Que nem uma coisa embutida, uma essência, somada às alterações que a vida traz. Uma hora a gente para, absorve tudo o que tem pra absorver e enfim, aquieta-se. 

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